Preparei tabelas para você usar e saber qual a melhor decisão
Por: Carlos Heitor Campani, pesquisador da Escola de Negócios e Seguros (ENS), PhD em finanças, professor do Coppead/UFRJ, pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e consultor de empresas e gestoras de Investimentos.
A maioria, senão todos os estados da Federação estão dando descontos para quem pagar o IPVA em cota única, ou seja, à vista. Da mesma forma, muitos municípios oferecem descontos para o pagamento do IPTU à vista. Com a Selic em alta, os descontos se tornam menos atraentes, simplesmente porque você pode investir o dinheiro e este render mais. E então vem a dúvida: será que vale a pena pagar essas e outras contas à vista? Neste artigo, ajudarei você a tomar a melhor decisão. Vem comigo!
Antes de entrar na matemática
Antes de mais nada, cabe ressaltar que essa discussão de “pagar à vista ou parcelado” faz sentido apenas para quem tem, de fato, o dinheiro para pagar à vista. Se você não dispõe do dinheiro para pagar integralmente o imposto à vista, seja IPVA ou IPTU ou qualquer outro, a alternativa de pegar dinheiro emprestado no banco (ou ficar devedor no cheque especial) é totalmente inviável porque estas e outras linhas de crédito acessíveis são caras e posso afirmar que os descontos concedidos nos impostos jamais valerão a pena. Claro, se você conseguir dinheiro emprestado na família sem juros (ou juros muito baixos), aí é uma questão especial e você precisará fazer contas (e seguir lendo esse artigo).
Outro ponto importantíssimo que precisa ser citado diz respeito ao seu comportamento com o dinheiro: se você é daqueles que se enrolam com as contas e o pagamento das parcelas futuras ficará em risco porque você pode “gastar o dinheiro com outras coisas”, aí a questão não é “fazer conta”, mas, sim, se proteger dessa sua desorganização e falta de controle. Nesse caso, sugiro pagar à vista de todo jeito e, mais importante ainda, começar a se organizar financeiramente o mais rápido possível: você não pode seguir jogando contra você mesmo! Comece por ler os muitos artigos que já escrevi por aqui nesta coluna sobre educação e organização financeira.
Entendendo o que está por detrás da conta
A principal métrica de um desconto para pagamento à vista se refere à taxa de investimento implícita que o desconto oferece. Para entender esse conceito, pense que ao pagar à vista, você está trocando parcelas mensais que somam um montante maior que o pagamento à vista (exatamente por este oferecer um desconto). Logo, há uma taxa de juros implícita nessa conta que iguala o seu pagamento à vista às parcelas futuras. Nos livros acadêmicos, esse conceito é conhecido como taxa interna de retorno de um investimento e é o balizador fundamental para saber se o desconto vale a pena ou não.
Neste momento, para saber se vale a pena ou não, precisamos comparar a taxa de juros implícita no pagamento à vista (com desconto) com uma taxa referência, segundo a qual você poderia investir o seu dinheiro sem correr riscos. Essa taxa é a Selic ou a taxa DI (que remunera um dos principais produtos bancários de investimento: o CDI). Para efeitos deste artigo, ambas as taxas são extremamente próximas e hoje estão a 13,65% ao ano, o que equivale a pouco mais de 1,01% ao mês. Mas, aqui, precisamos descontar o imposto de renda, pois essa taxa não vem toda pra você. Este imposto pode variar de 15% a 22,5%, conforme o prazo pelo qual seu dinheiro permanece investido. Desta maneira, estamos falando de uma taxa referência líquida de IR dentro de um intervalo que vai de 0,83% a 0,91% ao mês.
É importante lembrar que esta taxa pode mudar ao longo do prazo das parcelas, segundo decisões do Copom (Comitê de Política Monetária), o que pode impactar a decisão. Mas, no curto prazo, as variações esperadas pelo mercado são de ordem de grandeza que pouco afeta nossa discussão e, portanto, a decisão ótima.
Fazendo as contas
A tabela abaixo ajuda você a tomar as melhores decisões quando confrontado com a decisão de parcelar ou pagar à vista com desconto. Um detalhe importante é sempre procurar saber se a primeira parcela se dá no ato, ou seja, no mesmo momento em que o pagamento integral à vista seria realizado. Em muitos casos é desta forma que acontece. E isso vale para o IPVA nos estados que pesquisei e para o IPTU em muitos municípios. Logo a seguir da tabela, explicarei como utilizá-la.
Taxa de Desconto (concedida para pagamento integral à vista)
Número de parcelas | 3% | 4% | 5% | 6% | 7% | 8% | 9% | 10% |
3 | 3,13% | 4,23% | 5,36% | 6,52% | 7,73% | 8,96% | 10,24% | 11,55% |
4 | 2,07% | 2,79% | 3,53% | 4,29% | 5,06% | 5,86% | 6,67% | 7,51% |
5 | 1,55% | 2,08% | 2,63% | 3,19% | 3,77% | 4,35% | 4,95% | 5,56% |
6 | 1,23% | 1,66% | 2,10% | 2,54% | 3,00% | 3,46% | 3,93% | 4,42% |
7 | 1,03% | 1,38% | 1,74% | 2,11% | 2,49% | 2,87% | 3,26% | 3,66% |
8 | 0,88% | 1,18% | 1,49% | 1,81% | 2,13% | 2,46% | 2,79% | 3,13% |
9 | 0,77% | 1,03% | 1,30% | 1,58% | 1,86% | 2,14% | 2,44% | 2,73% |
10 | 0,68% | 0,92% | 1,16% | 1,40% | 1,65% | 1,90% | 2,16% | 2,42% |
11 | 0,61% | 0,83% | 1,04% | 1,26% | 1,48% | 1,71% | 1,94% | 2,18% |
12 | 0,56% | 0,75% | 0,95% | 1,15% | 1,35% | 1,55% | 1,76% | 1,98% |
Para aprender a utilizar a tabela acima, usarei o exemplo do IPVA para automóveis e motos no estado de São Paulo, onde a primeira parcela coincide com o pagamento integral à vista e, portanto, esta tabela pode ser utilizada. O desconto oferecido no pagamento integral (em cota única) é de 3% em alternativa a parcelar em cinco vezes. Desta forma, cruza-se na tabela a coluna correspondente ao desconto de 3% com a linha de cinco parcelas para se encontrar a taxa interna de retorno igual a 1,55%. Como esta taxa é seguramente maior que a taxa de referência, conclui-se que o pagamento à vista vale a pena.
Outro exemplo que pode ser utilizado é o IPVA do estado do Rio de Janeiro. O desconto à vista também é de 3%, mas neste caso, o parcelamento se dá em apenas três vezes, com o primeiro pagamento igualmente coincidindo com o pagamento da cota única. Perceba que, agora, a taxa implícita do pagamento à vista sobe para 3,13%, indicando que o pagamento integral à vista é ainda mais atraente na cidade maravilhosa. Aliás, você já deve ter reparado que as células pintadas em verde indicam quando vale a pena o pagamento à vista: repare que, mesmo com uma Selic alta, a maioria das configurações indica o pagamento integral à vista como a melhor decisão.
E se a primeira parcela for um mês após o pagamento à vista
Em alguns municípios brasileiros, de forma até curiosa, o pagamento integral do IPTU acontece (cerca de) um mês antes da primeira parcela. No dia a dia, muitas vezes o parcelamento se dá via cartão de crédito, onde também pagaremos a primeira parcela em aproximadamente um mês à frente contra um pagamento no ato (por débito ou mesmo pix). Trata-se do que normalmente chamamos de “pagamento parcelado sem entrada”. Nessas situações, a tabela precisa ser recalculada, pois o pagamento sem entrada torna a forma parcelada um pouco mais atraente. Calculei a tabela abaixo para esse tipo de situação. Note que há um pouco menos “verdinhos”, mas, ainda assim, na maioria das vezes, o pagamento à vista com desconto é a opção ideal.
Taxa de Desconto (concedida para pagamento integral à vista)
Número de parcelas | 3% | 4% | 5% | 6% | 7% | 8% | 9% | 10% |
3 | 1,54% | 2,07% | 2,61% | 3,16% | 3,72% | 4,29% | 4,87% | 5,46% |
4 | 1,23% | 1,65% | 2,08% | 2,52% | 2,97% | 3,42% | 3,88% | 4,35% |
5 | 1,02% | 1,38% | 1,73% | 2,10% | 2,47% | 2,85% | 3,23% | 3,62% |
6 | 0,88% | 1,18% | 1,49% | 1,80% | 2,11% | 2,44% | 2,76% | 3,10% |
7 | 0,77% | 1,03% | 1,30% | 1,57% | 1,85% | 2,13% | 2,41% | 2,71% |
8 | 0,68% | 0,92% | 1,15% | 1,40% | 1,64% | 1,89% | 2,14% | 2,40% |
9 | 0,61% | 0,82% | 1,04% | 1,26% | 1,48% | 1,70% | 1,93% | 2,16% |
10 | 0,56% | 0,75% | 0,94% | 1,14% | 1,34% | 1,55% | 1,75% | 1,96% |
11 | 0,51% | 0,69% | 0,86% | 1,05% | 1,23% | 1,42% | 1,61% | 1,80% |
12 | 0,47% | 0,63% | 0,80% | 0,97% | 1,13% | 1,31% | 1,48% | 1,66% |
Por último, mas não menos importante: uma dica
Caso você tenha o dinheiro à vista, mas igualmente uma dívida antecipável, procure avaliar se não vale a pena utilizar essa reserva para o pagamento antecipado da dívida e, então, parcelar o IPVA e/ou o IPTU. Isto porque, em geral, os juros cobrados em dívidas (principalmente dívidas bancárias e com cartões de crédito) costumam ser bem maiores que a maioria das taxas apresentadas nas tabelas acima.
Espero que você tenha gostado e, principalmente, que o artigo e as tabelas acima sejam úteis. Se quiser acompanhar todo o conteúdo que produzo, fica o convite para me seguir no Instagram @carlosheitorcampani.