Jornal O Globo repercute denúncia da Fenacor contra empresas irregulares

Federação Nacional dos Corretores de Seguros pediu à Susep suspensão das atividades da Loovi Seguros e LTI Seguros

O blog da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, publicou, hoje, 31 de janeiro, matéria sobre a denúncia da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) contra as empresas Loovi Seguros e LTI Seguros.

A Federação solicitou à Superintendência de Seguros Privados (Susep) a interrupção das atividades das duas empresas no setor de seguros, por estarem operando de forma totalmente irregular.

Por Johanns Eller (Blog Malu Gaspar)

Confira abaixo ou neste link a íntegra da matéria publicada no O Globo:

Entidade denuncia empresa ligada a Marçal por se passar como seguradora sem registro

Federação de corretores pede à Superintendência de Seguros Privados suspensão das atividades da Loovi até que se apure supostas irregularidades

Pablo Marçal em entrevista ao programa Achismos — Foto: Reprodução/Youtube

A Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros (Fenacor) pediu na última terça-feira (28) a suspensão das atividades da autodenominada Loovi Seguros, empresa da qual o ex-candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) é investidor, por se apresentar como seguradora de veículos sem ter o registro para exercer a atividade.

A Fenacor alega que a Loovi não está credenciada junto à Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia ligada ao Ministério da Fazenda responsável pela regulação do setor, e nem seguradora é, mas uma representante de seguros. Ainda assim, atua como se fosse uma seguradora regular e vende produtos que não está autorizada a vender, o que a companhia nega.

A equipe do blog teve acesso a trechos da representação na qual a federação sustenta que, pelo fato da companhia não ser reconhecida pela reguladora, os segurados não estão protegidos perante a Justiça em caso de prejuízos ou problemas na cobertura de sinistros. Nas redes da Loovi, por exemplo, há uma série de críticas de clientes alegando descumprimento de cláusulas ou propaganda enganosa.

O pedido é um dos itens de uma denúncia formalizada pela entidade junto à Susep. Caso a autarquia não acate, a Fenacor pede que ao menos a comercialização dos produtos seja interrompida durante a investigação.

A Loovi ganhou notoriedade nas redes com a divulgação de Marçal e influenciadores como Renato Cariani, sócio de Marçal, e na TV aberta com a publicidade feita por famosos como Whindersson Nunes e Celso Portiolli, seu garoto propaganda.

Nesses anúncios, a empresa promete seguros “50% mais baratos” do que a concorrência com aprovação em até cinco minutos em um ambiente totalmente digital, sem necessidade de perícia ou avaliação do veículo, dispensando a figura dos corretores. Nas redes, o perfil da empresa aposta na versão de que “vários famosos” já estão usando o serviço, o que é reforçado pela participação de Whindersson, Portiolli, Tirulipa e o próprio Marçal.

A federação também pede que a autarquia apure os vínculos de Marçal com a Loovi. Ele explorou sua ligação com a empresa durante as eleições de 2024 e aparece em vários vídeos nas redes sociais a exaltando como a “Netflix das seguradoras”, embora a sociedade não conste na Receita Federal. Uma busca por “Marçal” e “seguradora” no Google leva ao resultado patrocinado pela Loovi, “Seguradora do Pablo Marçal”, que leva ao site da empresa.

A empresa também foi apresentada como a “principal patrocinadora” do La Casa Digital, reality show do ex-candidato a prefeito voltado para o empreendedorismo.

A representação também pede a investigação de realização de sorteios irregulares de um ano de cobertura grátis, sem registro e nem autorização da Secretaria de Prêmios e Apostas da Fazenda.

Sócio de Marçal

A Loovi, na verdade, se chama CW Technology Ltda. e usa o nome fantasia Loovy Technology. Por lei, segundo a Fenacor, ela não pode se identificar como seguradora sem estar credenciada pela Susep, mas é assim que a empresa se autoproclama nas redes sociais e no seu site. Também não poderia prometer coberturas específicas, como o faz abertamente nas redes – desde abranger carros independente da idade, considerar modificações na estrutura do automóvel e até não fazer análise de áreas de risco, entre outros.

Na prática, ela é uma revendedora de seguros, e os únicos produtos que ela revende são os da LTI Seguros, como informam os próprios sites das duas companhias. O dono das empresas é o mesmo: Quézide Nunes, que é sócio de Marçal e é parte do universo “coach” de prosperidade.

A LTI, por sua vez, foi credenciada pela Susep como uma sandbox, modalidade que garante a empresas menores com interesse em expandir no setor exigências regulatórias mais simples, mas por um prazo limitado. A licença deles expira no ano que vem.

A narrativa da companhia nas redes induz o leitor à interpretação de que a Loovi conta com respaldo da Susep para aferir credibilidade ao produto – o que não procede. O próprio Marçal reforça o tema em vários posts replicados pelas redes sociais e em palestras para executivos.

“Nós não somos corretora, não somos associação, nós somos um grupo segurador. Seguradora da Susep!”, diz o ex-coach do PRTB em um vídeo divulgado na página oficial da Loovi no Instagram.

Procurado pela equipe do blog, Marçal afirmou ser investidor, e não sócio, da empresa, assim como em dezenas de outras companhias. Questionado sobre a falta de cadastro na Susep, o empresário e ex-coach minimizou:

“A Loovi é uma insurance e a LTI é da mesma holding. Não existe irregularidade nenhuma”.

Procuradas, a Loovi e a LTI se manifestaram no mesmo sentido.

“A Loovi e a LTI Seguros fazem parte do mesmo grupo econômico, com a LTI devidamente autorizada pela SUSEP (Portaria nº 8.091/2023) e a Loovi atuando como sua representante na distribuição de seguros. Ambas operam com transparência e em total conformidade com a regulamentação do setor”, diz a nota conjunta.

“Ressaltamos, portanto, que as operações seguem as normas vigentes, sendo as alegações infundadas. Além disso, reforçamos nosso respeito aos corretores de seguros e convidamos profissionais interessados a conhecer e comercializar nossos produtos”.

Nós também perguntamos à Susep se há prazo para análise da denúncia apresentada pela Fenacor. Em nota, a superintendência informou que uma vez “recebida a denúncia e concluída a instrução do processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir”, exceto se houver prorrogação pelo mesmo prazo, desde que “expressamente motivada”.

Forte nas redes

Hoje a companhia conta com 344 mil seguidores apenas no Instagram, bem à frente das maiores seguradoras do mercado, como a Bradesco Seguros (166 mil), Porto Seguro (65 mil), SulAmérica (143 mil) e Tokio Marine (60 mil).

Segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Susep, a LTI, ligada à Loovi, informou em junho de 2024 ter R$ 2,5 milhões em prêmios e R$ 3,3 milhões em sinistros, aproximadamente R$ 800 mil de déficit. O patrimônio líquido é de R$ 3,6 milhões.

Durante as chuvas no Rio Grande do Sul em maio de 2023, quando Pablo Marçal projetou nas redes com ações de ajuda às vítimas do desastre às vésperas de se lançar candidato a prefeito, o ex-coach também explorou a Loovi em seus perfis para promover a empresa.

Além de promover o sorteio de uma BMW com a venda de títulos pela Loovi, cuja arrecadação custearia a ajuda a desabrigados, o investidor também destacou que a companhia cobriria os danos de segurados afetados por desastres naturais, ao contrário das concorrentes, que deveriam, na sua opinião, abrir mão do lucro acumulado ao longo de anos para ajudar os 200 mil gaúchos que tiveram seus automóveis destruídos pela água e pela lama.

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