Fazia alguns anos que São Paulo não assistia a um incêndio das proporções do que aconteceu na semana passada, na região da Rua 25 de Março. O fogo começou num edifício de dez andares, se espalhou para alguns imóveis em volta e atingiu e destruiu a histórica Igreja Ortodoxa de Nossa Senhora, erguida no começo do século 20 e uma joia arquitetônica encravada numa região famosa pelo comércio popular.
O edifício onde o fogo começou não era mais utilizado de acordo com sua planta original. As mudanças da cidade fizeram com que, no lugar dos apartamentos ou escritórios, seus andares se transformassem em depósitos de mercadorias para os lojistas da região, comprometendo desde sua estrutura, pelo aumento do peso por metro quadrado, até rotas de fuga, em caso de um incêndio.
O prédio queimou por mais de sessenta horas, o que dá ideia da quantidade de material inflamável estocado em seu interior. Como se não bastasse, as chamas se espalharam pelos imóveis vizinhos, que, pela natureza dos produtos comercializados nas lojas neles instaladas, também foram destruídos pelo fogo.
A ordem dos prejuízos ainda precisa ser levantada, mas com certeza estamos falando, entre prédios e mercadorias, em várias dezenas de milhões de reais. E, provavelmente, boa parte deles não tinha seguros feitos acuradamente, capazes de repor as perdas, o que agrava ainda mais a tragédia.
A notícia positiva é que não houve perda de vidas. Ao que consta, dois bombeiros sofreram queimaduras. Não há notícia de mortos em função do incêndio. Mas isto foi sorte e não planejamento. A hora do início do acidente e a utilização do prédio onde o fogo começou como depósito, com certeza são os grandes responsáveis pelos danos serem exclusivamente patrimoniais.
Aqui cabe uma reflexão sobre o estado de conservação e a ocupação de grande parte dos imóveis localizados no chamado Centro da Cidade. Na região da 25 de Março, existem vários outros prédios, originalmente utilizados como apartamentos ou escritórios, transformados em depósitos de mercadorias, a maior parte deles sem qualquer controle por parte das autoridades.
Mas não é apenas nesse pedaço que a deterioração da cidade levou à queda vertiginosa dos padrões de conservação dos imóveis e a sua utilização para fins diversos daqueles para os quais foram construídos.
Vários edifícios, espalhados por uma grande área, tiveram suas lojas adaptadas para estacionamentos. Outros estão fechados, outros abandonados e uma parte invadida. Ou seja, em toda a região há o aumento da probabilidade de acidentes de todas as naturezas, inclusive um incêndio de grandes proporções, como aconteceu há poucos anos num prédio invadido.
Como a maioria desses edifícios não tem seguro ou, se tiverem, são malfeitos, na eventualidade de um acidente, não haverá qualquer indenização, em primeiro lugar para as pessoas atingidas, em segundo, para o patrimônio destruído e, em terceiro, para o responsável pelos danos indenizar pelo menos parte dos prejuízos causados.
Por: Antonio Penteado Mendonça, colunista no jornal O Estado de São Paulo