Artigo: Limites do Mercado Segurador

Por: Antonio Penteado Mendonça – Colunista no jornal O Estado de São Paulo, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

As seguradoras e resseguradoras têm um limite máximo de retenção de riscos. Isto quer dizer que elas não podem assumir todos os riscos que lhes são oferecidos e quer dizer também que o setor como um todo tem um limite que não pode ser ultrapassado. Ainda que o limite possa ser estendido pela incorporação de modalidades específicas de linhas de crédito ou investimento, continua havendo um limite máximo, além do qual o mercado segurador não pode ir. Esta barreira ainda não foi alcançada, mas o mercado se preocupa faz vários anos com as projeções de perdas de todos os tipos que vão aumentando regular e consistentemente com o passar do tempo.

Não é possível se prever com certeza qual o dano máximo possível capaz de atingir de alguma forma a atividade humana. Importante deixar claro que, para o mercado segurador, é ela que importa. Ou seja, a quantificação dos prejuízos deve levar em conta seu impacto sobre a humanidade, ainda que seus efeitos atinjam também outras espécies da flora e da fauna ou destruam pedaços do planeta.

Dia a dia as catástrofes vão crescendo de intensidade, com eventos cada vez mais severos se abatendo sobre o planeta e cobrando um preço mais caro das sociedades atingidas. Basta olhar o que aconteceu no Rio Grande do Sul para se ter um desenho claro dos impactos dos fenômenos naturais sobre a região e suas consequências sociais e econômicas para a população. Alguns anos atrás, o estado foi palco de uma severa estiagem, que deu lugar a chuvas intensas que, por três vezes em poucos meses, caíram sobre a região, causando danos em mais da metade dos municípios gaúchos.

Mas os efeitos das mudanças climáticas são muito mais severos do que apenas os danos ao Rio Grande do Sul. Neste momento, boa parte do Brasil passa por uma das maores estiagens da história, agravada pelos danos causados pelos incêndios que pipocam de norte a sul do país.

E outros países também são palco de eventos extremos que causam danos tão vultosos ou até mais do que os sofridos pelo Brasil. O último número a respeito destes prejuízos chegava próximo a 300 bilhões de dólares em um ano. Hoje este patamar já deve ter sido ultrapassado e a tendência é que a escalada prossiga, fora do controle do ser humano. O nível do mar está subindo, as temperaturas estão atingindo máximas muito elevadas, as tempestades, furacões, tornados etc. estão cada vez mais violentos. O resultado é as projeções apontarem para números na casa dos trilhões de dólares se mantendo reais ao longo dos próximos anos. Isto quer dizer que os limites do mercado segurador serão alcançados com relativa rapidez e, daí para frente, as seguradoras não terão condições de repor os prejuízos.

Como, além dos eventos naturais, a humanidade está sujeita a novas pandemias e, além disso, os riscos cibernéticos já estão causando prejuízos trilionários, o limite do mercado segurador está cada vez mais próximo. A única forma da humanidade enfrentar o que vem pela frente é a soma dos esforços dos governos e da iniciativa privada serem planejados, estruturados e coordenados para atuarem em conjunto e minimizarem os prejuízos, porque as perdas são uma certeza.

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