Artigo: Seguro de Automóveis, Falta Peças

Por: Antonio Penteado Mendonça – Colunista no jornal O Estado de São Paulo, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

As seguradoras estão sofrendo com um problema que não é responsabilidade delas, mas que afeta diretamente o seu negócio, porque o segurado acaba sendo prejudicado pela demora no conserto de seu veículo.

Eu passei pela situação e posso garantir que não é agradável. Como o problema envolve todas as montadoras em operação no Brasil, não vou dizer qual era meu carro, mas me envolvi num acidente em que ele sofreu danos de média monta e o resultado é que ficou parado mais de dois meses na oficina para onde foi levado para ser reparado.

O problema não era o reparo, esse era fácil. Na medida que nenhuma peça vital foi danificada, que os danos envolviam basicamente lataria e a suspensão da frente, não haveria razão para eu ficar sem carro, ou melhor, com o carro reserva oferecido pela seguradora, por mais de dois meses.

Acidente comunicado, carro guinchado, serviço autorizado, em duas semanas no máximo eu deveria estar novamente com meu carro como novo. Só que não aconteceu assim. Simplesmente não encontraram o para-choque dianteiro para substituir o que havia sido danificado. Durante mais de dois meses de buscas, não encontraram na montadora, suas concessionárias ou em outro lugar do Brasil um para-choque para substituir o que havia sido danificado. O resultado é que o carro ficou parado, ocupando espaço na oficina, até a seguradora decidir me indenizar como perda total e acabar com o drama – meu, dela e da oficina.

Em outras palavras, a seguradora morreu com uma conta que não era dela. De acordo com a lei, a seguradora indeniza em dinheiro o valor dos prejuízos decorrentes do acidente segurado. Ela poderia ter me dado o valor da indenização em dinheiro e dito “vire-se, daqui pra frente é problema seu”. Mas não foi isso que aconteceu. Eu recebi o valor do meu carro, de acordo com a tabela FIPE.

Isso tem acontecido com frequência. Acidentes que configurariam uma perda parcial estão sendo indenizados como perda total porque não tem peças de reposição no mercado e os veículos não podem ser reparados.

Por que as seguradoras estão fazendo isso? Afinal, ninguém é bonzinho quando se trata de perder dinheiro e é isso que está acontecendo. Em função da falta de peças, elas estão pagando mais caro pelas indenizações de parte dos veículos acidentados, além de assumirem uma série de outros custos, até darem uma destinação final ao bem que recebem do segurado, em função do pagamento da perda total.

A responsabilidade pela falta de peças é das montadoras. E a razão para não ter peças para reposição não é mais a crise dos microchips por causa da pandemia do coronavírus. Ela passa pela queda da venda de carros zero quilômetros, nos mercados internos e externos, o que reduziu a produção de veículos no país. Com a redução da produção há, consequentemente, a redução da demanda por peças, que impacta toda a cadeia produtiva.

As seguradoras estão arcando com a diferença de preço porque as montadoras até agora não se sensibilizaram com o problema, mas essa ação pode ter como desdobramento o aumento do preço do seguro de automóveis.

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