Artigo: Se Ficar o Bicho Come, Se Correr o Bicho Pega

Por: Antonio Penteado Mendonça – Colunista no jornal O Estado de São Paulo, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

Seguindo no tema da semana passada, em 2022, o Brasil vivia um momento complicado, com uma forte seca no Rio Grande do Sul e uma forte cheia dos rios da Amazônia, por conta das chuvas torrenciais que caíam na região. Este ano, a coisa mudou. O Rio Grande do Sul é devastado por violentas tempestades, que inundam vastas áreas do Estado, enquanto o Rio Negro está em seu nível mais baixo desde que começaram as medições e o Rio Amazonas, em comparação com sua vazão normal, se transformou num riacho de açude de fazenda.

Ao contrário do que diz a lenda, o Brasil está longe de ser um país que não é seriamente afetado pelos eventos de origem natural. É bem verdade, até agora tivemos terremotos de baixa intensidade, não temos tsunamis, nem vulcões, mas, se os fenômenos geológicos não nos causam danos, os de origem climática fazem a festa e agora não respeitam mais as épocas do ano. Entram em cena sem pedir licença e sem aviso prévio, atingindo brutalmente as mais variadas regiões do país.

O resultado, principalmente em função das secas e das enchentes, cobra um preço absurdo e quem morre com a conta é o cidadão, vítima do fenômeno que se abate sobre ele. O Brasil não contrata seguros para a maioria dos eventos de origem climática e o governo, que é quem deveria minimizar os prejuízos, depois de muito discurso e promessas feitas logo depois da catástrofe, invariavelmente esquece o que prometeu e fica o dito pelo não dito, com o cidadão morrendo com a conta e, muitas vezes, perdendo tudo que a família amealhou ao longo de gerações.

Poucas imagens são mais tristes do que as pessoas atingidas dando entrevistas para a televisão. Não há esperança, não há como reconstruir o perdido e, na maioria das vezes, não há seguro para minimizar os prejuízos.

O duro é que as cenas seguirão acontecendo, com frequência e severidade cada vez maiores. Os efeitos das mudanças climáticas estão aí e o “El Niño” mais forte vai aumentar a violência das ocorrências, agravando a seca e as enchentes, aliás, como já está acontecendo. É só ver as chuvas torrenciais em Santa Catarina e as “gaiolas” tombadas nos leitos secos dos rios da Amazônia.

Imaginar que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ficarão fora do processo é acreditar em Papai Noel. As primeiras tempestades já estão mostrando o que vem pela frente e o quadro não será bonito. Nesses Estados, há uma contratação maior de seguros, mas, mesmo assim, os prejuízos mais severos devem atingir apenas a carteira de seguros de automóveis, em decorrência dos alagamentos que submergirão milhares de veículos, ao longo dos próximos meses.

É verdade, parte dos riscos decorrentes de eventos de origem climática não são mais aceitos em países que tradicionalmente contratam seguros. É o caso da Flórida, onde as seguradoras não cobrem mais furacões e tempestades, e da California, onde não há cobertura para os riscos de incêndios florestais. Mas isso não quer dizer que o Brasil não precisa urgentemente mudar a realidade e passar a ter mais seguros para minimizar os prejuízos que fatalmente aumentarão bastante ao longo dos próximos anos.

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