Artigo: Seguros, seria interessante mudar o foco

Por: Antonio Penteado Mendonça – Colunista no jornal O Estado de São Paulo, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

Ao longo das décadas, o setor de seguros se habituou a informar os dados diretamente ligados às seguradoras. O primeiro grande número é o faturamento anual, que, curiosamente, costuma ser apresentado fatiado, primeiro seguro, depois previdência complementar e por fim os planos de saúde privados. Isso dá uma ideia equivocada do tamanho da atividade, já que seguro diretamente não chega a duzentos bilhões de reais, planos de saúde privados faturam mais do que duzentos bilhões de reais e, invariavelmente, nos planos de previdência complementar se informa o investimento nos produtos, que é diferente do faturamento das empresas.

O grande dado da indústria automobilística é a quantidade de veículos fabricados e comercializados durante o ano e não qual o faturamento das montadoras. Também é relevante a quantidade de empregos direta e indiretamente gerados e o tamanho da cadeia econômica, com todas as atividades dependentes do setor automotivo ocupando seu lugar.

Para o setor automotivo a informação importante é a quantidade de itens fabricados, importados e comercializados, novos e usados, peças, oficinas mecânicas, concessionárias, lojas de carros etc. Quanto cada montadora faturou é muito menos importante do que a quantidade de veículos produzidos.

Para o setor de seguros, ao longo dos anos, o dado importante tem sido o faturamento das seguradoras, que é um dado parcial, já que temos também o faturamento dos corretores de seguros e de todos os prestadores de serviços, que deveriam ser computados na conta. Além disso, quem sabe por conta de um antigo complexo de inferioridade, de quando o setor representava menos de um por cento do PIB, também é relevante informar qual a participação do faturamento das empresas sob o manto da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) no PIB brasileiro.

Será que este é o dado relevante para a sociedade entender o que é e qual a importância do setor para a população e para a economia? Me parece que não. Muito mais relevante do que informar que, entre secos e molhados, o setor faturou perto de meio trilhão de reais em 2022 é mostrar que o setor devolveu para a sociedade perto de trezentos bilhões de reais em indenizações de seguros, procedimentos cobertos por planos de saúde privados e resgates dos planos de previdência privada e capitalização.

Para o dia a dia do cidadão e mesmo para a rotina da sociedade é indiferente se a seguradora A cresceu dez por cento e a B cresceu 12,5%. Mas não é indiferente saber que mais de não sei quantos mil veículos atingidos pelas chuvas de verão foram indenizados ou que milhares de indenizações por mortes por covid 19, que não estariam cobertas, foram pagas pelas seguradoras ou que milhões de pessoas são anualmente atendidas pelos planos de saúde privados.

A SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) começou a divulgar os números referentes às indenizações pagas. Se o setor focar nessas informações terá outro reconhecimento da sociedade.

Artigos Relacionados