Ao longo de 2021, o faturamento do setor de seguros cresceu em relação a 2020. Mas, na mesma comparação, o lucro das seguradoras diminuiu. E diminuiu, segundo alguns estudos, 40%, o que se explica pelo resultado mostrado na última linha dos balanços da maioria delas, inclusive nos prejuízos de monta apresentados por algumas companhias.
Foi um ano atípico? Foi um ano difícil, em que os resultados mostram o que aconteceu. De um lado, a economia brasileira aqueceu, deixou para trás a recessão de 2020 e cresceu em praticamente todos os setores. De outro, uma série de impactos negativos atingiu a economia como um todo e o setor de seguros especificamente. No final, se o faturamento cresceu, os custos cresceram mais ainda, puxados pelos sinistros de determinados seguros que impactaram bastante a operação das companhias com forte concentração nessas carteiras.
Em função da pandemia, os seguros de vida tiveram um aumento de sinistralidade bastante expressivo, puxado pelas indenizações das mortes por covid19 que, eventualmente, com base nas exclusões das apólices, poderiam não ter sido indenizadas, mas que o foram e comprometeram o resultado de várias seguradoras.
Essa ação do setor de seguros merece destaque porque mostra o seu comprometimento com a sociedade brasileira. Ainda que suportando indenizações que impactariam seus resultados, as seguradoras indenizaram as mortes por covid19 sem entrarem no mérito da cobertura ou exclusão da garantia pela apólice. E isso custou caro.
Além disso, o setor automotivo, com forte peso no desempenho do setor de seguros, teve um comportamento bastante complicado. A falta de semicondutores diminuiu a fabricação de veículos zero, a valorização dos seminovos chegou próxima dos 30%, a falta de peças, além de comprometer os reparos, aumentou seu preço e o aumento da sinistralidade de forma geral aumentou os gastos com as indenizações por roubo e furto.
Como a carteira de automóveis trabalha com margens apertadas em função da concorrência, várias seguradoras, sem conseguirem aumentar seus preços para compensar seus custos, tiveram resultados mais magros. E algumas perderam valores relevantes.
Mas, se essas duas carteiras chamam a atenção por serem mais conhecidas, outros seguros também tiveram o desempenho comprometido, começando pelos
seguros de incêndio, com um forte aumento dos sinistros em decorrência da pandemia. O aumento dos furtos e roubos em geral, e de celulares especificamente, comprometeu a carteira. E assim sucessivamente. Ao longo de 2021, as seguradoras experimentaram o aumento das indenizações e o aumento do faturamento, pelo pagamento parcelado dos prêmios contra o pagamento à vista dos sinistros, não foi suficiente para compensar na mesma medida o crescimento das despesas.
Isso quer dizer que o setor está quebrado? Não, quer dizer que o ano de 2022 será um ano de ajustes e que quem fizer a lição de casa corretamente pode voltar a apresentar belos balanços.
Por: Antonio Penteado Mendonça, colunista no jornal O Estado de São Paulo