Por: Antonio Penteado Mendonça – Colunista no jornal O Estado de São Paulo, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e secretário-geral da Academia Paulista de Letras
Durante várias décadas, o seguro de automóveis teve o mesmo desenho. Três garantias diferentes emitidas numa única apólice com o objetivo de cobrir o veículo, danos a terceiros e danos ao motorista e passageiros.
Na década de 1970, o seguro de veículos era visto como o patinho feio do mercado. As seguradoras preferiam seguros de incêndio, lucros cessantes, transportes, vida e acidentes pessoais. O seguro de automóveis era um prolongamento do negócio, no qual as seguradoras aceitavam os seguros dos veículos de seus segurados nos chamados ramos nobres. Aí a Porto Seguro, que não conseguia competir com a mesma eficiência nos ramos tradicionais, inovou e criou o seguro de automóveis moderno, com a cara que o conhecemos hoje, erguido a uma das principais carteiras de seguros do mercado brasileiro e ao risco patrimonial mais cobiçado pelas seguradoras.
Entre secos e molhados, os avanços foram rápidos. Em 40 anos o seguro de automóveis conheceu mudanças e inovações que o fizeram um produto especial e essencial, o mais comercializado pelos corretores de seguros. Especial porque através dele aconteceu a mudança de paradigma no mercado. Enquanto, até seu surgimento, as seguradoras priorizavam os seguros mais sofisticados, com ele as seguradoras entraram de cabeça nos seguros de massa, mudando inclusive a composição dos riscos nacionais, que passaram a ficar em boa parte dentro dos limites técnicos das grandes seguradoras. E essencial porque, com a dinâmica da sociedade brasileira, os proprietários de veículos foram pressionados a contratá-lo, em função dos riscos que passaram a ameaçar seus automóveis.
Todavia, se o seguro de veículos cresceu dentro do mix de prêmios do país, chegando a representar 35% do faturamento das seguradoras, o desenho de suas coberturas permaneceu o mesmo, com garantias para o casco, para danos a terceiros e para acidentes de passageiros, as mesmas oferecidas já na década de 1970.
Mas o uso dos carros mudou. Surgiram veículos movidos por outros combustíveis, seguro para taxis, motos, depois veículos de aplicativos, veículos compartilhados e caminhamos para os veículos autônomos, ou seja, sem motorista.
A simples evolução da sociedade já seria suficiente para levar ao aparecimento de novas modalidades de cobertura. Proteção para espelhos retrovisores, vidros e acessórios foram colocadas no mercado, em complemento às garantias tradicionais que deixavam estes equipamentos dentro da franquia. Mas o mercado foi além e desenvolveu novas formas de coberturas para o seguro de veículos. É assim que hoje temos seguros baseados no uso do veículo, no tempo de uso do veículo, nas competências e qualificações dos motoristas, nos riscos que o segurado deseja cobrir etc. E a tendência é este leque se abrir cada vez mais, oferecendo ao mercado uma gama cada vez mais diversificada de opções de garantias e capitais segurados.
Quem ganha com esses movimentos é o segurado. Claro que as seguradoras estão no negócio para ganhar dinheiro e, se forem bem tocadas, irão ganhar. Mas, de verdade, quem ganha é o segurado, que passa a ter mais opções para suas necessidades específicas.